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Victorinox

27 de setembro de 2013

História interessante a da Victorinox. Provavelmente você já conheça parte dela – a fabricação dos mais famosos canivetes do mundo, que chegam a ter 33 funções e são o carro-chefe da empresa. Mas hoje, a Victorinox produz também relógios, perfumes, artigos de cutelaria, malas, mochilas e acessórios para viagem, e ainda peças de vestuário.

 

Leia abaixo como ela sobreviveu à crise depois do ataque às torres gêmeas, quando a comercialização dos canivetes foi proibida em aeroportos e aviões, e continua sendo uma referência de qualidade:

 

 

Texto de Assis Moreira, publicado no Valor Econômico de quinta-feira, 29 de agosto de 2013.

 

 

Victorinox acelera internacionalização

 

 

Quando o visitante chega ao vilarejo de Ibach-Schwyz, na região que deu origem à Suíça, entre montanhas e um belo lago, é difícil ignorar a marca Victorinox. Um imenso cartaz com o famoso canivete do exército suíço é visto de longe, sinalizando o local de produção desse símbolo helvético reconhecido globalmente.

 

 

Victorinox é uma empresa familiar com 129 anos de existência, que sofreu sua mais forte turbulência após os atentados de setembro de 2001 em Nova York. Da noite para o dia perdeu 30% do faturamento, ao não poder mais vender seus famosos canivetes em aeroportos e aviões em volta do mundo, no rastro de medidas de segurança aérea.

 

 

Para salvar a empresa, a família proprietária teve de acelerar a expansão internacional e diversificar a produção. De líder mundial de canivetes multifuncionais, além de cutelaria, passou a produzir também relógios, perfumes, malas e roupa. E começou a abrir lojas próprias; hoje, são 65, das quais 35 somente no Japão.

 

 

Os próximos passos incluem ter lojas próprias em grandes emergentes como Brasil e China. A companhia está investindo nessa estratégia 10% do faturamento anual, o que representou US$ 50 milhões no ano passado. O presidente da empresa, Carl Elsener Jr., disse ao Valor que a prioridade agora é consolidar a marca Victorinox. A empresa acha que em cinco anos terá uma bem estabelecida “marca global de alta qualidade com raízes suíças”.

 

 

Desde que a diversificação começou, o faturamento quase dobrou para 510 milhões de francos (ou US$ 543,4 milhões), entre 2001-2012. O número de empregados passou de 1.200 para 1.850.

 

 

“Antes tínhamos o boca a boca, mas agora estamos investindo também em publicidade, com o mesmo foco em qualidade e funcionalidade dos produtos”, diz ele.

 

 

No Brasil, o faturamento foi de R$ 18 milhões em 2012, mas o potencial é considerado enorme. Proximamente, a empresa passará a vender no país sua linha de moda – camisas, jaquetas etc. A Victorinox também busca pontos comerciais, em São Paulo ou no Rio, para abrir uma loja-conceito própria. Em Genebra, há uma de grande porte, muito frequentada por turistas brasileiros, segundo Elsener Jr.

 

 

O nome Victorinox é ligado ao legendário “canivete do exército suíço”. Até o fim do século XIX, o exército helvético não tinha a tradição de cutelaria, ao contrário da Alemanha, França ou Espanha. Em 1889, o Exército suíço passou a usar um novo fuzil cuja manutenção necessitava de uma chave de fenda. Foi isso que deu origem ao canivete do soldado helvético.

 

 

A primeira entrega ao exército suíço foi feita em 1891 por uma cooperativa de cutelaria. Mas o preço era alto em comparação ao canivete mais barato da vizinha Alemanha. Sobrou apenas um produtor, Karl Elsener, com sua pequena fábrica em Ibach. Ele tinha perdido todo seu dinheiro na operação. Alguns parentes o ajudaram a obter prazo junto aos credores para evitar a falência. O que o salvou foi criar um canivete mais leve e elegante, com várias funções. O equipamento dos oficiais incluía até um saca-rolha para abrir a garrafa de vinho – algo que o canivete dos soldados não tinha.

 

Quando sua mãe morreu, Elsener, o fundador, deu o nome de Victoria à empresa. Pouco depois, quando surgiu o aço “inox”, ele juntou os dois nomes, criando a Victorinox.

 

 

O canivete multifuncional propagou-se no exterior no rastro da Segunda Guerra Mundial. Terminado o conflito, milhares de soldados dos EUA permaneceram na Europa e os armazéns militares vendiam o famoso canivete suíço. Quando eles retornaram para os EUA, levaram o equipamento. Outros “boys” americanos se interessaram e aumentaram a demanda do produto com garantia vitalícia contra defeitos de fabricação ou material utilizado.

 

O baque veio em 2001 com os atentados terroristas em Nova York. “De repente perdemos um terço do negócio e vimos o quanto era perigoso a dependência de um produto”, conta Carl Elsener, sereno, na sala de reunião da companhia.

 

O jeito foi diversificar. No lado dos canivetes, há hoje 360 diferentes modelos, até com “pen drive”. O modelo maior é o SwissChamp, com 33 funções. Os preços variam de US$ 9 a US$ 140. Nas linhas destinadas a colecionador, o preço supera os US$ 400. Outros 15 exércitos, incluindo o da Alemanha, compram canivetes Victorinox. Um terço das máquinas de produção é fabricado pela própria Victorinox. “É claro que não vendemos exemplares das máquinas”, diz Hans Schorne, o porta-voz, enquanto mostra o setor, com 20 técnicos.

 

Em 2004, a companhia comprou o concorrente suíço Wenger. E diversificou o portfólio, procurando fazer o vínculo com a originalidade do canivete suíço. Victorinox fabrica relógio no Jura, um dos cantões (Estados) da Suíça. Também produz o perfume Swiss Unlimited no país.

 

 

Outro passo foi entrar no setor de moda. A produção de camisas, jaquetas e outras roupas é feita no Peru, em Portugal e na Hungria, em razão do preço e da qualidade, segundo a empresa. O segmento de malas, mochilas e acessórios para viagem tem produção na China, Taiwan e Tailândia, principalmente.

 

 

A dependência em relação ao mercado dos Estados Unidos diminuiu nos últimos anos. As vendas nos EUA caíram pela metade no volume total, para 20% desde 2001. Em compensação, América do Sul e Ásia representam 20% do faturamento. O interesse por presença ativa nos grandes emergentes se justifica também “porque é onde a população e a renda estão crescendo e o Brasil é uma escolha óbvia”, diz Michael Tschümperlin, responsável na matriz pelos negócios no mercado brasileiro.

 

 

Em Ibach-Schwyz, a montagem de canivetes – em máquinas ou, manualmente, por dezenas de mulheres com luvas brancas – continua a todo vapor. São 60 mil peças por dia, juntamente com cutelaria (facas, equipamentos de afiar). Cada lâmina é examinada por um grupo de 90 funcionárias com luvas brancas que controlam minuciosamente a qualidade.

 

 

Mas o negócio original de canivetes representa hoje 40% do faturamento. Os relógios geram 20% da receita, a cutelaria e malas 15% cada, e os produtos de moda e perfumes 5% cada.

 

 

Carl Elsener Jr, presidente da empresa, diz que a crise econômica global não teve impacto maior na empresa. As vendas estagnaram na Europa, mas cresceram em outros mercados. Para este ano, a expectativa é de alta de vendas entre 3% e 5%, abaixo da média de 7% a 10% de anos antes da crise global.

 

 

Nos últimos três anos, a empresa teve que aumentar os preços em cerca de 5% a 7%, para compensar a queda nas vendas na Europa, por exemplo.

 

 

A empresa suíça também ampliou a luta contra a pirataria de seus produtos. Começou a instalar chip com código RFID (Identificação por Rádiofrequência) em alguns produtos. Isso ajuda alfândegas e comerciantes a identificar o produto falsificado. Recentemente a Suíça assinou um acordo de livre comércio com a China, que para Elsener não traz riscos. “No passado éramos muito preocupados com a China, mas nos últimos 15 anos passamos a vender para lá e vemos que os chineses também preferem qualidade e marca”, diz.

 

 

No geral, o executivo mostra-se otimista. A crise econômica parece estar diminuindo, a empresa se expande, tem novos modelos e segue a mesma filosofia de negócios, de uma empresa familiar com profunda influência católica.

 

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